Não se pode dizer que a segunda edição da Farta esteja a ser um parto difícil. Na verdade, e uma vez que ainda está em período de gestação, tudo tem sido feito conforme manda a lei: o novo tema esteve a repousar, alguns até o colocaram a marinar. Tudo para que, na hora da verdade, seja servido no ponto certo.
Antes de irmos diretamente ao âmago da questão e de o colocar na brasa, interessa-nos refletir sobre o que foi o processo de escolha do tema da segunda edição da Farta.
Após o sucesso estrondoso do primeiro disco, muitas foram as bandas que se deixaram perder no seu sucessor. Não há como negar: a síndrome do impostor e o fantasma do disco de estreia pairavam sobre as nossas cabeças. O que seria, se calhar, a Farta transformar-se numa Kate Bush das revistas de gastronomia. O que percebemos que poderia ser um autêntico ultraje e uma falta de respeito atroz pela cultura gastronómica portuguesa.
Ao longo dos meses, muitas foram as sugestões que vieram desse lado. Umas doces, outras salgadas, com mais ou menos tempo de forno ou, simplesmente, preparadas na brasa. Aceitamos todas de bom grado. Ora porque nos deixa a salivar, ora porque acicata este interminável processo de escolha. Depois da Farta #1 ter versado a francesinha, uma iguaria que tem tanto de típica como de polémica, a segunda edição não poderia fugir a este paradoxo.
A Farta é uma revista independente, com tudo o que isso tem de bom. A liberdade criativa invade-nos os pulmões e permite-nos ser aquilo que quisermos, quando quisermos. Apesar dos heróis que vão desbravando caminhos por esse Portugal afora, a francesinha é uma tentação absolutamente local. Diria, até, geograficamente limitada por muralhas invisíveis. Uma forma de expressão dos tripeiros, de uma gente que faz das tripas coração e que, com base no croque monsieur, fez um prato digno de peregrinações.
Há, para esta segunda edição, uma certa necessidade de libertação. Das amarras destas muralhas invisíveis e de abrir horizontes a um país pequeno mas rico em discussões gastronómicas. Abrindo horizontes a uma discussão que se quer saudável e democrática, como a Farta é e quer continuar a ser.
Seria portanto inevitável um bocado de polémica à mistura. Com molho de limão, piri-piri, tipo leitão ou a um qualquer balcão. Por isso, indagamos: poderá haver um prato mais democrático, mais português, mais corriqueiro, do que um bom e belo Frango Assado?
Um prato do dia a dia. Um refúgio. Uma solução simples e prática para quem come. Uma ciência exata para quem o confecciona.
Do norte ao sul do país, nas suas mais variadas formas, feitios e tamanhos. A verdadeira comida de conforto. De origens africanas ou vinda diretamente do outro lado do Atlântico? Dos Descobrimentos às churrasqueiras ou de África ao Nando’s?
Dificilmente teremos respostas para tão filosóficas questões. Mas tem sido uma romaria e pêras para (tentar) decifrá-las.
Disponível em breve para pré-encomenda no website da Farta. Até lá, com o frango já marinado, vamos aquecendo as brasas para a Farta #2.