A terceira edição da Farta, centrada na famosa sobremesa, foi o pretexto para visitar Lisboa com a companhia da Confraria da Rabanada.
Existe na Farta um propósito que salta para além das páginas de uma revista semestral. O de alimentar entusiastas da cozinha tradicional portuguesa de norte a sul do país, sem olhar a preconceitos e sem barreiras à criatividade. Porque também ela, a cozinha tradicional portuguesa, se faz de exploração, de descoberta e de mesas fartas.
Neste regresso a Lisboa depois do lançamento da Farta #2 na Musa de Marvila, uma segunda-feira soalheira foi o pano de fundo de um almoço de rabanadas nas suas mais variadas formas e feitios.
O Manja é um espaço singular. Uma espécie de cozinha aberta à criatividade. Ao erro, à falha e à descoberta. E foi com essa premissa que, na passada segunda-feira, Vítor Adão foi o anfitrião de um Manjar que divagou entre clássicos e surpresas.
O mote foi dado pelo chef transmontano com uma rabanada de bacalhau, um pontapé de saída auspicioso e que marcou o compasso para as rabanadas que se seguiriam.
Foi entre sorrisos e trocas de opiniões, num ambiente de partilha, que João Pupo Lameiras entrou em cena com uma das rabanadas mais surpreendentes do dia: rabanada, gamba, caril de cabeças. O confrade nortenho abraçou o desafio e, saindo da sua zona de conforto, trouxe uma rabanada fresca e onde a lima e os coentros fizeram toda a diferença.
Costuma-se dizer que santos da casa não fazem milagres, a menos que a casa seja o Isco e a milagreira a Natalie Castro. Com um percurso ainda curto mas pejado de experiência na arte de trabalhar pão, Natalie apresentou uma rabanada de azeite, mousse de fígados, escabeche, uma versão de iscas de cebolada verdadeiramente desconcertante.
Seguiu-se Gil Fernandes, que mais tarde viria a ser um dos destaques dos Prémios Mesa Marcada com o Prémio Especial Makro Chefe Revelação do Ano. Antes disso, o estrelado chef da Fortaleza do Guincho apresentou uma rabanada de ensopado de borrego, de travo forte, como se quer, que nos remete para velhos serões passados em casa dos avós à volta do fogão a lenha.
Sendo a rabanada um prato tendencialmente doce, este almoço não poderia deixar de apresentar as suas versões, das mais tradicionais às mais modernas.
David Jesus foi o responsável por iniciar esta subida vertiginosa nos níveis de açúcar no sangue com aquele que já é um clássico do Seiva: rabanada de brioche, tamarindo. Uma rabanada doce mas equilibrada, perfeita para nos preparar para a overdose que se seguiria.
Se Gil Fernandes nos levou de volta a casa dos avós, Pedro Braga presenteou-nos com a bonita memória da sua avó numa receita que, segundo o próprio, lhe chegou às mãos sem quantidades. Uma rabanada com doce de ovos que, a julgar pelo resultado final, está aqui para nos provar que a repetição leva à perfeição.
Para fechar com chave de ouro, Miguel Oliveira, autor do Pudim Rei finalizou o repasto com a sua rabanada do Marquês, um tributo ao vinho generoso de Carcavelos e ao Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras.
Ao longo do almoço, tivemos a companhia dos vinhos ZOM e Maynard’s, da Van Zeller Wine Collection, que harmonizaram este Manjar de forma perfeita.
Obrigado a todos os que tornam tudo isto possível, que continuam a comprar a Farta e a participar nos mais variados eventos. Ainda que as revistas estejam a esgotar a um ritmo galopante, a nossa vontade de valorizar Portugal e a comida tradicional é inesgotável.
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